A instituição seleccionada para o mês de Dezembro é o Centro Social Nossa Senhora da Graça em Baleizão, do distrito de Beja.
O texto que se segue é um artigo escrito por Sílvia Alexandrino, que nos ajudou este mês a seleccionar a instituição, e que nos dá uma visão realista deste Centro. É de louvar que este Centro não se limite a acolher os idosos durante o dia. Eles fazem trabalhos artesanais, o que lhes permite que continuem activos.
Centro de apoio à terceira idade em Baleizão vive dias difíceis
«A solidão é a coisa mais triste do Mundo»
Sílvia Alexandrino
Sílvia Alexandrino
Quando há 18 anos Frederico Palma, arquitecto de formação e professor, natural de Baleizão, «sonhou» com a criação de um centro social na terra que sempre se recusou a abandonar, mal podia imaginar que o percurso a seguir seria tão tortuoso. Hoje tem parte do seu sonho realizado mas teme que tudo se desmorone em breve à sua volta.
Em 1996, Frederico Palma, aproveitando fundos comunitários, conseguiu que surgisse o Centro Social Nossa Senhora da Graça em Baleizão, uma instituição privada de solidariedade social sem fins lucrativos, cujo principal objectivo se centrava no apoio aos idosos. Foi com o recurso à Medida 5 do Projecto Integrar que se conseguiu construir uma parte do edifício, cujo projecto original contemplava também a vertente de internamento, aspecto este que não teve, contudo, cabimento no programa comunitário em questão.
Feita esta primeira conquista, que muito enriqueceu a aldeia e que encheu de esperança os mais idosos, pretendia dar-se continuidade ao projecto e efectivar a construção de um espaço que englobasse o internamento. Assim não aconteceu... até hoje. E é precisamente esta necessidade até agora não satisfeita que está a ameaçar o próprio funcionamento deste espaço. Possuindo apenas as valências de centro de dia e apoio domiciliário, falta a esta instituição uma das valências mais necessárias a uma população que continua a envelhecer a olhos vistos e que cada vez mais vive o drama da solidão.
Perante este cenário têm sido muitas as desistências de vários utentes do centro para outras instituições que lhes permitem a residência no próprio espaço que os acolhe. Estes idosos vão para longe da terra onde nasceram e onde passaram na maioria dos casos toda a sua vida, para outras paragens com as quais não têm muitas vezes quaisquer laços afectivos.
Novas inscrições «estão suspensas»
Estima-se que para dar como concluído o projecto sejam necessários 400 mil euros, valor que o Centro por si só não consegue suportar. E a solução não se perspectiva fácil pois, como exclama Frederico Palma, director da instituição, «quem tem responsabilidades não ajuda».
Muitas têm sido as reuniões feitas com a Segurança Social e as tentativas para falar com a tutela. Tudo em vão. A um ofício de 31 de Março de 2005, respondeu o chefe de gabinete do secretário de Estado da Segurança Social que «não obstante a pertinência e a necessidade de um lar de idosos em Baleizão, devido à situação financeira em que se encontra o Piddac e à redução das verbas para investimentos para 2006, as novas inscrições estão suspensas». Nada muito animador.
Tendo as valências existentes a capacidade de servir 60 pessoas, número que já se verificou no passado, esta instituição só serve presentemente 37, mantendo as 12 funcionárias que se entregaram a esta causa. Com esta diminuição de utentes, na sua maioria detentores de reformas muito baixas, mesmo as despesas correntes se tornam insustentáveis, colocando cada vez mais em situação difícil a manutenção das valências existentes e até mesmo os postos de trabalho.
Têm sido pequenos projectos (exposições com venda de artesanato, almoços de solidariedade, espectáculos, etc.) que têm vindo a possibilitar a manutenção deste espaço uma vez que a ajuda social proveniente da Segurança Social não é suficiente para cobrir os gastos que se avolumam a cada mês, não negando Frederico Palma que já existem dívidas a fornecedores.
Estima-se que para dar como concluído o projecto sejam necessários 400 mil euros, valor que o Centro por si só não consegue suportar. E a solução não se perspectiva fácil pois, como exclama Frederico Palma, director da instituição, «quem tem responsabilidades não ajuda».
Muitas têm sido as reuniões feitas com a Segurança Social e as tentativas para falar com a tutela. Tudo em vão. A um ofício de 31 de Março de 2005, respondeu o chefe de gabinete do secretário de Estado da Segurança Social que «não obstante a pertinência e a necessidade de um lar de idosos em Baleizão, devido à situação financeira em que se encontra o Piddac e à redução das verbas para investimentos para 2006, as novas inscrições estão suspensas». Nada muito animador.
Tendo as valências existentes a capacidade de servir 60 pessoas, número que já se verificou no passado, esta instituição só serve presentemente 37, mantendo as 12 funcionárias que se entregaram a esta causa. Com esta diminuição de utentes, na sua maioria detentores de reformas muito baixas, mesmo as despesas correntes se tornam insustentáveis, colocando cada vez mais em situação difícil a manutenção das valências existentes e até mesmo os postos de trabalho.
Têm sido pequenos projectos (exposições com venda de artesanato, almoços de solidariedade, espectáculos, etc.) que têm vindo a possibilitar a manutenção deste espaço uma vez que a ajuda social proveniente da Segurança Social não é suficiente para cobrir os gastos que se avolumam a cada mês, não negando Frederico Palma que já existem dívidas a fornecedores.
Exemplo a seguir
Na ampla sala de estar do Centro reúnem-se todas as tardes grande parte das suas utentes. Muitas entregam-se à televisão, à conversa ou até ao silêncio. Tal como acontece em grande parte do centro, o grande aproveitamento da luz solar faz com que também esta sala esteja repleta de luz, sendo até possível ver de uma enorme janela o espaço que estaria destinado à zona de internamento. Muitas escolhem este local para ocupar igualmente as manhãs, mas as que ainda revelam mais vivacidade procuram o atelier de artesanato existente no Centro, dinamizado por Luísa Cochilha desde há três anos.
Numa sala repleta de peças de todos os tipos, as utentes do Centro que ainda conseguem ver bem dedicam-se à costura, manuseio do barro, produção de licores e compotas, entre outras actividades. Das suas mãos saem muitos produtos que encontram o seu destino nos postos de turismo e até na Ovibeja, cujos materiais para a próxima edição já estão a preparar. Desse seu trabalho resulta algum dinheiro para o Centro, mas nada que lhes possibilite ver o sonho de muitas realizado: passar as suas noites no Centro que as acolhe durante o dia.
Na ampla sala de estar do Centro reúnem-se todas as tardes grande parte das suas utentes. Muitas entregam-se à televisão, à conversa ou até ao silêncio. Tal como acontece em grande parte do centro, o grande aproveitamento da luz solar faz com que também esta sala esteja repleta de luz, sendo até possível ver de uma enorme janela o espaço que estaria destinado à zona de internamento. Muitas escolhem este local para ocupar igualmente as manhãs, mas as que ainda revelam mais vivacidade procuram o atelier de artesanato existente no Centro, dinamizado por Luísa Cochilha desde há três anos.
Numa sala repleta de peças de todos os tipos, as utentes do Centro que ainda conseguem ver bem dedicam-se à costura, manuseio do barro, produção de licores e compotas, entre outras actividades. Das suas mãos saem muitos produtos que encontram o seu destino nos postos de turismo e até na Ovibeja, cujos materiais para a próxima edição já estão a preparar. Desse seu trabalho resulta algum dinheiro para o Centro, mas nada que lhes possibilite ver o sonho de muitas realizado: passar as suas noites no Centro que as acolhe durante o dia.
«O Estado olha pelos outros e não olha por Baleizão?»
Mariana Neto, de 52 anos, ainda hoje vive no Penedo Gordo, aldeia a cinco quilómetros de Beja. Há quatro meses, por indicação de sua irmã, foi para o Centro Social Nossa Senhora da Conceição em Baleizão. Esteve internada no hospital e como já não conseguia andar sem a ajuda do «andarilho», decidiu que este era o espaço onde deveria passar grande parte do seu tempo, estando devidamente acompanhada por pessoas que cuidariam de si pois, apesar de viver com o marido, também este é doente e não saberia tratar de si. Hoje, diz sem dúvida alguma que «gostava de ficar sempre aqui, mesmo sendo longe da minha terra».
Com uma idade invejável e uma alegria que se vislumbra nos seus olhos, Gertrudes Carrilho, que celebrou recentemente 92 anos, vem todos os dias das Neves para Baleizão, trazida por uma carrinha do Centro. Diz que está neste espaço há apenas três meses mas imediatamente as suas colegas a corrigem dizendo que ali está há mais de dois anos… Justifica o engano com o gosto que tem pelo Centro e que a leva a esquecer até o tempo que passa de forma traiçoeira. «Passa-se bem aqui o tempo, isto é alegre, pois uma diz uma coisa, outra diz outra…», afirma.
Antes de vir para o Centro vivia com a filha, mas logo que soube que lhe podia dar «mais descanso» passando os dias nesta instituição, nem pensou duas vezes. Da escolha que fez não se arrepende. «Isto é uma casa muito asseada, muito boa e elas (colegas e funcionárias) são boas de lidar», sublinha, imediatamente acrescentando que «só é pena que não tenham arranjado camas para o pessoal».
Emília Brinca, de 66 anos, tem casa em Beja e é para essa casa que se recolhe todos os dias depois de deixar o Centro. Veio para este espaço para acompanhar o seu pai, a quem tinha sido diagnosticada a doença de Alzheimer, o qual se recusava a vir para o Centro sem que a sua filha o acompanhasse. Quando o pai de Emília Brinca faleceu, esta continuou todavia no Centro. «Como estava sozinha em casa, sem nada para fazer, pensei que não havia razão para não continuar no Centro, pois aqui todas são boas para mim», diz. Sabe que estava projectado construir o centro de internamento e que esta possibilidade está seriamente comprometida, o que muito a desagrada pois sendo uma pessoa doente admite que terá um dia de ficar num espaço que a aceite 24 sobre 24 horas. «O Estado tem que olhar por isto, olha pelos outros e não olha por Baleizão? Precisamos de ajuda, somos pobres. Os lares de gente rica têm muito dinheiro mas nós somos pobres e precisamos de ser ajudados», refere.
«Quando chego a casa começa a tristeza», diz entre lágrimas Emília Zambujo, de 80 anos, residente em Baleizão. «A solidão é muito triste. A solidão é a coisa mais triste do Mundo. A nossa sorte é a televisão», diz. Para combater o sofrimento que confessa invadi-la quando entra em casa, Emília Zambujo ficava até tarde a ver TV, pois dessa forma sentia-se acompanhada. Hoje não o pode fazer pois o corpo já lhe pede mais descanso mas mesmo assim não consegue extrair das noites a tranquilidade merecida. Na sua cabeça há uma ideia recorrente: «Sou doente e pode dar-me uma coisa durante a noite e ninguém me vale. É isto que temos de mais certo!».
Por temer a noite em que a ajuda não está por perto, Emília Zambujo só pedia que o Centro de dia tivesse um quarto para si, pedido comum à sua conterrânea Jerónima Guerreiro de 74 anos. Também esta mulher vive sozinha, sem filhos e sem qualquer família. Recorda-se de uma noite em que ia morrendo à noite «e foram elas que me salvaram quando lá chegaram de manhã».
Consciente desta realidade não podia deixar de estar o director do Centro Social Nossa Senhora da Graça em Baleizão que se dedica voluntariamente a esta causa. Por isso pede a um povo que sabe ser generoso, que «revele alguma empatia e solidariedade» e «ajude de alguma maneira a instituição para que não tenha de fechar as portas».
Mariana Neto, de 52 anos, ainda hoje vive no Penedo Gordo, aldeia a cinco quilómetros de Beja. Há quatro meses, por indicação de sua irmã, foi para o Centro Social Nossa Senhora da Conceição em Baleizão. Esteve internada no hospital e como já não conseguia andar sem a ajuda do «andarilho», decidiu que este era o espaço onde deveria passar grande parte do seu tempo, estando devidamente acompanhada por pessoas que cuidariam de si pois, apesar de viver com o marido, também este é doente e não saberia tratar de si. Hoje, diz sem dúvida alguma que «gostava de ficar sempre aqui, mesmo sendo longe da minha terra».
Com uma idade invejável e uma alegria que se vislumbra nos seus olhos, Gertrudes Carrilho, que celebrou recentemente 92 anos, vem todos os dias das Neves para Baleizão, trazida por uma carrinha do Centro. Diz que está neste espaço há apenas três meses mas imediatamente as suas colegas a corrigem dizendo que ali está há mais de dois anos… Justifica o engano com o gosto que tem pelo Centro e que a leva a esquecer até o tempo que passa de forma traiçoeira. «Passa-se bem aqui o tempo, isto é alegre, pois uma diz uma coisa, outra diz outra…», afirma.
Antes de vir para o Centro vivia com a filha, mas logo que soube que lhe podia dar «mais descanso» passando os dias nesta instituição, nem pensou duas vezes. Da escolha que fez não se arrepende. «Isto é uma casa muito asseada, muito boa e elas (colegas e funcionárias) são boas de lidar», sublinha, imediatamente acrescentando que «só é pena que não tenham arranjado camas para o pessoal».
Emília Brinca, de 66 anos, tem casa em Beja e é para essa casa que se recolhe todos os dias depois de deixar o Centro. Veio para este espaço para acompanhar o seu pai, a quem tinha sido diagnosticada a doença de Alzheimer, o qual se recusava a vir para o Centro sem que a sua filha o acompanhasse. Quando o pai de Emília Brinca faleceu, esta continuou todavia no Centro. «Como estava sozinha em casa, sem nada para fazer, pensei que não havia razão para não continuar no Centro, pois aqui todas são boas para mim», diz. Sabe que estava projectado construir o centro de internamento e que esta possibilidade está seriamente comprometida, o que muito a desagrada pois sendo uma pessoa doente admite que terá um dia de ficar num espaço que a aceite 24 sobre 24 horas. «O Estado tem que olhar por isto, olha pelos outros e não olha por Baleizão? Precisamos de ajuda, somos pobres. Os lares de gente rica têm muito dinheiro mas nós somos pobres e precisamos de ser ajudados», refere.
«Quando chego a casa começa a tristeza», diz entre lágrimas Emília Zambujo, de 80 anos, residente em Baleizão. «A solidão é muito triste. A solidão é a coisa mais triste do Mundo. A nossa sorte é a televisão», diz. Para combater o sofrimento que confessa invadi-la quando entra em casa, Emília Zambujo ficava até tarde a ver TV, pois dessa forma sentia-se acompanhada. Hoje não o pode fazer pois o corpo já lhe pede mais descanso mas mesmo assim não consegue extrair das noites a tranquilidade merecida. Na sua cabeça há uma ideia recorrente: «Sou doente e pode dar-me uma coisa durante a noite e ninguém me vale. É isto que temos de mais certo!».
Por temer a noite em que a ajuda não está por perto, Emília Zambujo só pedia que o Centro de dia tivesse um quarto para si, pedido comum à sua conterrânea Jerónima Guerreiro de 74 anos. Também esta mulher vive sozinha, sem filhos e sem qualquer família. Recorda-se de uma noite em que ia morrendo à noite «e foram elas que me salvaram quando lá chegaram de manhã».
Consciente desta realidade não podia deixar de estar o director do Centro Social Nossa Senhora da Graça em Baleizão que se dedica voluntariamente a esta causa. Por isso pede a um povo que sabe ser generoso, que «revele alguma empatia e solidariedade» e «ajude de alguma maneira a instituição para que não tenha de fechar as portas».
1 comentário:
Venham então lá essas peças...LOL
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